"Mulher-Cão", por Paula Rego

"Mulher-Cão", por Paula Rego

A mulher das cavernas...

Havia um ser selvagem
Nos confins do mundo
Registrei-a numa imagem
De um ambiente profundo...


Caçava para comer
E passeava todo o dia
Pescava para sobreviver
E nadava na água fria....

Vivia só entre os animais
E tinha uma caverna
Era forte e bela demais
Pobre, pura e terna...



Era a Mulher da Caverna...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Carpinejar é 10!

FABRÍCIO CARPINEJAR

  • Não existe paciência

    Pode confiar na mulher que nunca joga fora o xampu quando termina. Porque nunca acha que termina.

    São vários potes no box do banheiro. Uma milícia de cheiros. A maior parte com um resto luminoso. Alguns virados para facilitar a saída desesperada da fragrância.



    Um homem, diante daquela lágrima de cisne, não teria piedade e colocaria no lixo.

    Não sem razão. É uma sobra simbólica que apenas se mexeria colocando água. Uma massa imóvel, que mal treme. O conteúdo não presta nem para dois enxágues. Para chorar um pouco no pulso, depende de tapas na bunda do pote. Todo xampu velho é um bebê nascendo.



    Mas ela não descarta. Pensa que aquilo que não perfuma seus cabelos é ainda capaz de perfumar suas mãos.

    Permanece com a esperança de que um dia terá uma emergência e ele será útil. Para seus olhos, nada está inteiramente morto, nada está inteiramente esgotado.

    Contribuem para sua crença as brincadeiras de faz de conta na infância, a sopa de folhas e o refrigerante de terra. Não depende de muito para seguir vivendo, pede um mínimo de realidade; acostumada a sempre completar por sua conta.



    Não existe paciência, somente fé. Mais da metade de um marido bom é imaginação feminina.



    A mulher que não joga o xampu fora não jogará nenhum homem fora. A menos que ele esteja seco por dentro, acabado, sem nenhuma emoção para oferecer, consumido pelo silêncio da esponja. Ela eliminará o sujeito de sua vida após várias tentativas, até se convencer de que ele não rende nem mais espuma. Nem mais passado.



    O que me leva a concluir que quem pensa demais não faz, não se arrisca, não se entrega. O pré-requisito é criado para impedir que mudanças aconteçam.

    É necessário ser imaturo para amar. É necessário ser imaturo para engravidar. É necessário ser imaturo para juntar as tralhas e pertences, construir uma casa em comum, e seguir ameaçado pelo humor do próximo.

    Merece o amor quem trabalha por ele, quem sofre por ele, quem não quis ser mais inteligente do que sensível, quem é absolutamente idiota para sacudir um pote de xampu já findo.

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